
Sem dúvidas, uma das áreas mais conhecidas da psicologia, no senso comum, é a Psicologia Clínica baseada na psicoterapia individual, com tempo de duração de sessão aproximadamente determinado, ocorridas no ambiente do consultório apenas na presença do profissional e da pessoa atendida. Com frequência geralmente semanal ou até mesmo quinzenal, a dupla psicoterapeuta-paciente, constrói percepções, compreensões e maneiras de lidar com o problema e/ou angústia vivenciada pelo paciente no momento de vida em questão e o trabalho ao longo deste acompanhamento se desenvolve numa perspectiva de acolhimento, prevenção, promoção, avaliação, reabilitação e transformação.
Porém, além dos moldes da psicoterapia individual, existem outros tipos de psicoterapia, tais quais as realizadas em grupos, psicoterapia de casal e/ou familiar, orientação de pais, entre outras. Ademais, a condução dos atendimentos psicológicos depende da orientação teórica utilizada pelo profissional, pois na Psicologia existem diversas maneiras de se compreender o sujeito, seu sofrimento e seu contexto, sendo que tais maneiras orientam as intervenções do profissional que conduz o(s) caso(s). Assim, uma psicoterapia de orientação psicanalítica, por exemplo, terá suas particularidades e será diferente de uma psicoterapia cognitivo comportamental, comportamental, humanista, fenomenológica, analítica junguiana, psicodrama, entre outras abordagens teóricas. Considerando isso, a experiência do sujeito em psicoterapia será sempre singular e única.
E embora cada teoria tenha suas particularidades, é essencial ressaltarmos a importância da psicoterapia ser realizada por um profissional formado em psicologia, uma vez que este possui bases científicas, técnicas e éticas as quais estabelecem as diretrizes para sua atuação.
Impactos da pandemia na saúde mental e na atuação profissional de psicólogos:
Além dos atendimentos presenciais, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) regularizou, em 2018, os serviços psicológicos realizados por meio de tecnologias de informação e comunicação por meio da Resolução CFP Nº 11/2018. Tais serviços já eram assuntos de debates e outras resoluções de anos anteriores, que possuíam como foco o oferecimentos de um serviço tecnicamente adequado e de acordo com princípios metodológicos e éticos da profissão. Entretanto, os serviços psicológicos na modalidade online ganharam maior notoriedade com o surgimento da pandemia de COVID-19, em 2020, e as medidas de isolamento social.
A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), destacou no final de novembro de 2021, que a pandemia ocasionou um efeito devastador e generalizado na saúde mental e bem-estar da população das Américas. Além disso, a OMS refere o aumento do sofrimento psicológico, sintomas psíquicos e transtornos mentais como uma epidemia paralela a do coronavírus e que inclui sofrimentos relacionados diretamente à infecção ou seus desdobramentos secundários. Dados demonstram o aumento de sintomas de ansiedade e depressão, além do sofrimento com o desemprego, pobreza, insegurança alimentar, luto, aumento dos incidentes de violência doméstica, diminuição de renda, adaptação às novas condições de trabalho, precarização do trabalho, entre outros fatores que prejudicam principalmente a saúde mental de populações vulneráveis.
Assim considerado, é notável que falar sobre saúde mental e bem-estar implica em abordar o contexto histórico-social em que estamos inseridos, assim como considerar que o sofrimento psicológico está também relacionado ao acesso, ou falta dele, a bens, direitos e serviços essenciais os quais devem ser garantidos pelo Estado. E por falar desses serviços, tivemos interrupções contínuas dos mesmos durante a pandemia, tanto pela necessidade do distanciamento social e grande demanda dos casos de COVID-19, quanto pelo desmonte e sucateamento dos serviços públicos que vêm se estabelecendo há anos, principalmente no Brasil.
Diante de tal precarização e da crescente demanda em saúde mental, a psicoterapia ganha ainda mais espaço enquanto um meio possível de se acessar um bem-estar psicológico. Porém, pacientes e profissionais tiveram que se adequar às novas formas de prestação deste serviço. Alguns estudos se debruçam tanto para compreender as principais necessidades dos pacientes, quanto para as adaptações vivenciadas pelos psicólogos e como vêm lidando no enfrentamento às dificuldades.
Desta forma, se torna importante destacar que a modalidade de psicoterapia online não é apenas uma transposição da forma presencial para a forma remota e sendo assim, ajustes foram pensados pelos profissionais a fim de adaptar o setting terapêutico, lidar com as limitações e possibilidades deste tipo de atendimento e conhecer as novas plataformas que surgiram, as quais interligam pacientes e psicólogos para a realização do trabalho. Além disso, planos de saúde também oferecem o serviço e até mesmo no SUS há a possibilidade, dependendo da gestão municipal de saúde, de ser acompanhado de maneira remota.
No entanto, as ferramentas que objetivam melhorar e tornar mais acessível o acesso das pessoas à psicoterapia acaba, por vezes, precarizando e subvalorizando o trabalho do psicólogo, como por exemplo: plataformas de atendimento online que cobram mensalidades exorbitantes dos profissionais e prometem um retorno muitas vezes não alcançado; planos de saúde que realizam um pequeno repasse de valores aos profissionais credenciados ao convênio, além de limitar e padronizar duração do atendimento e número de sessões e priorizarem um atendimento em massa – uma sessão após a outra.
No âmbito do SUS, a luta por um acompanhamento em saúde mental adequado à dignidade da pessoa humana ocorre há décadas, e ainda hoje permanece junto às discussões sobre um apoio psicossocial qualificado e acessível à toda população. Todavia, a precarização dos serviços acima citada influencia diretamente o trabalho de profissionais de saúde mental que atuam no SUS: faltam serviços, profissionais, qualificação e suporte das gestões para se pensar e praticar um apoio psicossocial de maneira mais ampla e coletiva, considerando as singularidades dos sujeitos e seus contextos.
A psicoterapia como um dos pilares possíveis para a estruturação da saúde mental:
Embora não seja o único, a psicoterapia presencial ou online, individual ou em grupo, é um dos pilares possíveis para se construir e sustentar a saúde mental dos sujeitos e auxiliá-los a lidar com os sofrimentos inerentes à vida, mas também é essencial a consciência de que o bem-estar psicológico é construído coletivamente e minimamente garantido por meio de Políticas Públicas de saúde, habitação, trabalho, educação, lazer, cultura, alimentação, entre outras, que visem a promoção de igualdade e equidade, assegurando o acesso destes direitos – os quais são fundamentais a uma boa qualidade em saúde mental.
A terapia está em dia? Isso ajuda muito!
Mas também é importante lutar para que todos tenham bem-estar psicológico
com garantia de seus direitos básicos e serviços de saúde mental adequados!
- Confira o manifesto do CRP/SP sobre a garantia dos Direitos Humanos e suas violações AQUI.
- Para saber mais sobre os impactos psicológicos da pandemia e algumas maneiras de auxiliar seu bem-estar, recomendamos esta leitura, e lembramos que cada pessoa tem um contexto histórico-cultural-social-econômico singular e, por isso, não há dicas gerais que abranjam toda a complexidade de ser humano na atualidade: LEIA AQUI!